domingo, 29 de março de 2009

HOJE É DIA DE ...

FUNDAÇÃO DA CIDADE DE SALVADOR (lei Orgânica do Município de Salvador) 

Notadamente, a Sé-primaz do Brasil, sob a invocação de N. S. da Ajuda, a Capela de N. S. Conceição da Praia, bem como o Paço dos Governadores e a Casa da Câmara e Cadeia, foram produto do barro moldado, da taipa de mão e de pilão, do teto de palha, tão distantes da monumental cantaria portuguesa, dalém-mar. A cal, resultante da queima de crustáceos na Ilha de Itaparica, a partir de 1551; o arenito proveniente de Boipeba; o lioz português que servia de lastro nas embarcações e a madeira-de-lei da Mata Atlântica foram conquistando, pouco a pouco, os canteiros de obras que se multiplicavam na construção da metrópole.

Desse primeiro encontro restam, além dos registros históricos, o traçado urbano da cidadela do mestre de cantaria Luís Dias, arquiteto-mor desta soterópolis, com a sua malha viária reticulada e confinada e a Praça do Palácio ou dos Mercadores, onde se implantou o primeiro guindaste condutor de mercadorias entre o porto e a cidade-alta. Iconografias e relatos nos dão conta da precariedade dos edifícios, públicos e privados, só superada após as sucessivas tentativas de invasão da cidade por parte dos holandeses (1599-1649), quando a estabilidade política e a prosperidade econômica permitiram o desenvolvimento de um padrão arquitetônico monumental, português por excelência, com a importação de projetos, mão-de-obra e materiais necessários ao vultoso empreendimento.

A arquitetura militar foi a primeira a se beneficiar da conjuntura político-econômica do século XVII, com a ampliação das fortalezas existentes e a construção de novas, a exemplo do Forte de São Marcelo, no porto da cidade, sobre um banco de areia emergente da maré baixa e dos Fortes de Santa Maria e São Diogo, na defesa do então vulnerável Porto da Barra. Os Fortes de Santo Antônio da Barra, São Felipe (Monte Serrat) e Santo Alberto completavam o cerco à cidade, sob a mira das baterias e baluartes da sua muralha e do seu porto.

A arquitetura religiosa ganhou em requinte e monumentalidade na 2ª metade do século XVII. As ordens religiosas aqui instaladas no século XVI foram Jesuítas (1549), Beneditinos (1585), Carmelitas (1586) e Franciscanos (1587). A Santa Casa de Misericórdia e o Clero Secular (Arquidiocese Primaz, 1551), por sua vez, construíram novas sedes ou ampliaram as suas primitivas, adaptando-se à nova configuração conjuntural. 

O monge beneditino Frei Macário de São João foi o autor de inúmeros projetos, os mais expressivos do seu tempo, como a Igreja e Mosteiro de São Bento, Igreja e Convento de Santa Tereza, Igreja e Hospital da Santa Casa de Misericórdia, além da Casa de Câmara e Cadeia. A Igreja da Sé, a Igreja do Salvador do Colégio dos Jesuítas, a Igreja e Convento do Carmo e o Convento de São Francisco, são, igualmente, exemplos deste monumental acervo, onde a cantaria, local e portuguesa, arrematam as caixas murais, nos seus contornos mais elaborados: portadas, cercaduras, cunhais, beirais, frisos, frontões, bacias, ináculos, soleiras, colunas ou mesmo a ensilharia, tão comuns no vasto e erudito rol das edificações religiosas. 

Destaca-se, também, o Convento de N. S. do Desterro, 1º edifício de ordem religiosa na América portuguesa, construído para as irmãs Clarissas administrarem o destino das moças solteiras da soterópolis, patriarcalista e castradora.

A arquitetura civil de função pública teve os seus melhores exemplos na Casa da Câmara e Cadeia (1660), no Paço dos Governadores (1663), na sede da alfândega (cidade-alta), nos prédios assobradados com amplos salões - onde o mobiliário luso-brasileiro começava a apresentar sinais de uma prosperidade precursora do seu apogeu no século XVIII. 

Os solares, residências senhoriais, mostravam o seu vigor no panorama urbano, tendo a loja, no plano térreo, e o pavimento nobre superior conectados por imponente saguão e escadaria. São vários os exemplos deste período, com pátio central, azulejos portugueses no seu interior, forros em caixotões, portas almofadadas, janelas com postigo, sacadas com os muxarabies, beirais encornijados (tipo beira-soleira ou encachorrados), portadas em cantaria, brasonadas ou dotadas, sobrelojas ou entressolhos, alcovas, chaminés, cocheiras e capelas particulares. Dentre eles, destacam-se o Solar Brequó, a Casa das Sete Mortes, o Solar do Ferrão, o Solar São Damaso, a Casa de Oração dos Jesítas, o Paço do Saldanha, a casa natal de Gregório de Mattos, além de dois sobrados na esquina do Cruzeiro de São Francisco.

Este período configurou uma imagem urbana com exponência monumental, entremeada pela singeleza de uma arquitetura vernacular, distribuída em lotes urbanos estreitos, ao longo de becos e ladeiras. O século XVIII foi o século do ouro, do apogeu econômico, do barroco e do rococó, da supremacia da Igreja Católica, do Vice-Reinado (1714), da expulsão dos Jesuítas (1759) e da mudança da capital para o Rio de Janeiro (1763).

Salvador transformou-se no maior porto do Atlântico Sul e na segunda maior cidade do Império Português (antes eram Lisboa e Goa). Freguesias foram criadas e a cidade extrapolou os limites da sua muralha e, conseqüentemente, da mancha matriz, ampliando o seu território pelas colinas adjacentes ao Norte (Carmo e Santo Antônio), ao Sul (São Bento, São Pedro, Piedade, São Raimundo, Mercês) e a leste do Rio da Vala (Palma, Lapa, Desterro, Santana, Saúde), além do seu porto, estendendo-se da Preguiça à Jequitaia e da península de Itapagipe (Boa Viagem, Bonfim, Penha). Nunca se construiu tanta igreja (capelas, matrizes, irmandades seculares e de ordens 2ª e 3ª).

O barroco dominou o cenário religioso baiano, pródigo em entalhes dourados, prataria, ourivesaria, pintura, azulejaria, cantaria, transformando a cidade do Salvador em importante e qualificado canteiro de obras, que atraía mão-de-obra especializada portuguesa e formava "escolas" de artífices. Construiu-se, então, um rico acervo arquitetônico e artístico, equiparável aos melhores do mundo e peculiar no seu regionalismo. Inúmeros são os exemplos desta pródiga fase, e, em nível de exemplo, citamos: Igreja de São Francisco e sua ordem 3ª, N. S. do Rosário dos Pretos, SS. Sacramento da Rua do Passo, N. S. da Saúde e Glória, N. S. da Conceição da Praia, SS. Sacramento e Santana, N. S. da Conceição do Boqueirão, N. S. do Pilar, N. S. da Boa Viagem, N. S. da Penha de França, N. S. do Bonfim, Ordem 3ª de São Domingos, São Miguel, São Pedro, N. S. da Piedade, N. S. da Graça, São Lázaro, N. S. de Nazaré, N. S. de Brotas e os Conventos de N. S. da Conceição da Lapa, Bom Jesus dos Perdões, N. S. das Mercês e N. S. da Soleade.
A arquitetura militar ganhou novo plano de defesa baseado na arquitetura de Vaubainne, introduzido pelo arquiteto militar francês Jean Massé (1714-1720), quando foram reformados e reequipados os fortes existentes e construídos novos, estabelecendo-se, desta forma, um sistema articulado e amplo para a defesa do novo território. O extremo sul da cidade foi guarnecido pelas baterias dos fortes de São Pedro, Aflitos e São Paulo da Gamboa; o extremo norte, pelas baterias dos Fortes de Santo Antônio (Além do Carmo) e N. S. do Carmo (Barbalho) e, a defesa da cidade, como um todo, pela bateria do Quartel Central (Mouraria) complementada pelo apoio da Casa da Pólvora (no atual Campo da Pólvora).

As antigas fortalezas completavam o sistema de defesa de Salvador, eficiente e bem equipado. A arquitetura civil acompanhou os ditames do século com requinte e ostentação. Os lotes continuavam estreitos (casas geminadas) e profundos (grandes quintais), assim como as ruas (casas nas testadas nos lotes). Predominava o partido assobradado, com loja, saguão com escadaria monumental - às vezes externa (Solar Conde dos Arcos-Garcia) -, sacadas, sótão, beirais e modenaturas ricamente trabalhadas. O vidro só vai ser introduzido nas esquadrias no último quartel do século XVIII, em substituição aos muxarabies que predominaram até o início do século XIX.

O mobiliário apresentava-se requintado, em madeira-de-lei (jacarandá e vinhático) e de influência lusitana. Os serviços domésticos dependiam diretamente do trabalho escravo, não havendo infra-estrutura sanitária. As famílias eram numerosas e pródigas em agregados e a vida social girava em torno das celebrações e compromissos religiosos. A cidade era insalubre, com a maioria das ruas sem pavimentação, deslizamento de terra nas encostas, hortas plantadas nos vales onde eram despejados os dejetos urbanos, sem transporte público, com a predominância dos negros nas ruas, palco para punições (pelourinho e forca) e manifestações lúdicas

O comércio era próspero (importações e exportações) e a Baía de Todos os Santos, pontilhada de embarcações a vela (naus e saveiros), com o porto em franca expansão (aterros para construção dos trapiches). A configuração do centro histórico de Salvador (que, em grande parte, data desse século) confere à cidade uma atmosfera barroca, com destaque para a arquitetura religiosa, cujas torres sineiras marcam as freguesias e bairros da cidade, sendo os seus mais relevantes pontos de referência urbana.

O século XIX foi revolucionário e transformador. Revolucionário no campo das idéias e transformador do ponto de vista social e urbano. Os reflexos da Revolução dos Alfaiates (1798), a chegada da família real (1808), a abertura dos portos (1808), a assinatura do 1º tratado de comércio com a Inglaterra (1810), a criação do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia (1810), a independência do Brasil (1822), a independência da Bahia (1823), a Revolta dos Malês (1835), a fundação da primeira casa bancária (1834), o gradativo processo de industrialização, a gradativa abolição da escravatura e a Lei Áurea (1888), a crise econômica que se abateu em função da seca (1870-1877), a gradativa separação Igreja/Estado (1873-1891), a implantação de serviços públicos (a partir de 1850) e a Proclamação da República (1889) foram fatores fundamentais na transformação do panorama urbano da cidade do Salvador ao longo do século XIX.

A cidade importou costumes, produtos, mão-de-obra e idéias. Os novos lotes urbanos tiveram seu padrão ampliado; a casa passou a ser construída isolada do vizinho e recuada em relação à rua. Surgiu o padrão de porão alto, acesso lateral, platibanda com acrotérios, revestimento de azulejos nas fachadas, vidros nas esquadrias, instalações sanitárias (externas ao corpo da casa) e o estilo neo-clássico, como o estilo oficial do Império, após a Missão Artística Francesa de 1816. Novos bairros surgiram: Campo Grande, Canela, Garcia, Vitória, Graça, arrabalde da Barra, Nazaré, Lapinha, Liberdade, Calçada, Ribeira, Caminho de Areia, Plataforma, Brotas, Matatu, Baixa dos Sapateiros, Sete Portas e as ampliações do porto com sucessivas aterros.

DIA DE SÃO JONA 
Hoje é o Da de São Pastor e São Jonas.


Fonte: www.quediaehoje.net



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